Aos 27 entendi que
ando perdendo tempo com pequenezas, e que preciso mudar o foco dos problemas
para ter a real dimensão deles. Que pequenezas são mesquinhas, mas que
sutilezas são mágicas e, perder a sutileza, é perder o encanto.
Percebi que tudo tem
seu brilho, e também seu lado fosco, pois não existe nada perfeito. Mas que são
as imperfeições que dão nuances à vida, que são os defeitos que nos fazem ver
as qualidades e o feio que nos faz perceber o belo, mas que a beleza nem sempre
está à primeira vista.
Aprendi o óbvio: que é
errando que se aprende a acertar, como criança que precisa colocar o dedo na
tomada para entender que dá choque. Descobri que estou me reinventando, e que estou
bem longe de estar pronta. Talvez eu nunca esteja. Talvez nem seja esse o
objetivo. Os seres humanos estão no mundo como massas de um pão de cozimento
lento: primeiro são feitos de vários ingredientes, depois tem que crescer, e
são sovados pelas mãos da vida, só então vão para o forno, mas quando chegam no
ponto, se vão, devorados pela fome do mundo. Mas percebo que começo a caminhar
com passos da mulher que sempre quis me tornar.
Entendi que a arte me
pertence, e que pertenço à arte, de tal maneira que sem ela me sentiria
amputada. Também vi que a arte não é louvar o erudito, ou criar pedestais que
isolam a criação de quem a contempla. Fazer arte é pensar e recriar o mundo, é
preencher a alma dos outros, mudar visões, propor idéias e elevar o espírito de
quem está com os pés no chão.
Aprendi que para mim tudo
tem que ter um significado, mesmo o que parece mais banal e mesmo que eu
precise inventar um. Que não acredito em sucesso sem trabalho, em fazer pela metade. Sou intensa e preciso estar inteira no que faço.
Descobri que cantar
não é só soltar a voz, acertar uma nota, animar uma platéia. Ë expressar e ter
o que dizer, mesmo que o que se canta não seja seu. É se apropriar da música e
se fazer entender através dela. Descobri que atuar para mim significa
construir, tijolo a tijolo um personagem, uma idéia e uma catarse.
Tive a certeza de que
o palco me liberta, mas também me aprisiona, pois preciso dele. Que no teatro
sou Muitas e na música sou Eu. E que não, não quero ter que escolher.
Aprendi aos 27 e
depois de algumas decepções - daquelas que a gente exalta, mas que todo mundo
tem – que poucos são leais. Que a efemeridade é o composto principal na maioria
das relações humanas. E que é assim que deve ser, pois se houvesse profundidade em excesso,
muitos se afogariam.
Aprendi que acreditar
em todos não é fé, é ingenuidade e que depois de certa idade e vivência isso se
torna inadmissível. Mas também vi que alguns enganam mesmo, por covardia, ou
por fraqueza de espírito, e que nesses casos não existe defesa além da
prevenção. Mas não, não acho que se deva viver em descrédito, temos mesmo que
viver, e aprender. (Uma vez minha gata –
in memorian – entrou no meu quarto toda suja de lama. Na hora nem pensei,
peguei a bichana e levei direto pro chuveiro. Com cuidado, que fique claro, mas
o susto foi tanto que ela nunca mais
entrou no banheiro! Mas não deixou de explorar os outros cômodos da casa). Deve
ser por aí mesmo.
Aprendi que, não importa
o que tenha acontecido, temos que acreditar no amor. Mas naquele amor real,
aquele que preenche sem iludir, feito de paredes sólidas e valores
inextricáveis. Que todo amor é um caminho e que mesmo as princesas de contos de
fadas cortaram um dobrado para ter seu final feliz. Mas também aprendi que,
antes de amar o outro, é preciso amar a si mesmo, para não virar gato ou sapato
de ninguém.
Outra obviedade: Não
devemos esperar das pessoas o que elas não são capazes de dar, cada um tem uma
limitação peculiar. O autoconhecimento é a melhor forma de entender e cobrar
menos de si mesmo e do outro.
27 e 4 meses. Percebi
que o corpo muda, e a cabeça também. E que isso é muito bom. Que mudamos a
visão, a audição, o tato, o olfato e o paladar. Passamos a gostar de outros
sabores, a descobrir outras cores, outros cheiros, outras texturas, outros
sons. Que dá vontade de usar outras
roupas e mudar o corte de cabelo. Que dá vontade de arriscar mais por aqui, e
de se conter mais por ali. Que tenho a obrigação de ser útil, mas que tenho o
direito de ser fútil às vezes. E que as decisões começam a ser mais acertadas.
Pelo menos algumas.
Entendi que minha
família é começo meio e fim. Antes durante e depois. E que é muito bom ter uma
base sólida e reconfortante.
Aprendi que meus
amigos de verdade são ainda mais valiosos do que eu já valorizava, Mas que
mesmo amando muito eu piso na bola com eles e eles comigo. E que tá tudo bem,
contanto que tentemos ser sempre melhores.
Aprendi o valor de
perdoar e ser perdoada, e que às vezes é necessário passar o passado a limpo
para viver o presente e caminhar para o futuro. São as lágrimas que lavam a alma e a deixam
brilhando para um novo viver. Que devo confiar no meu sexto sentido, e na minha
sensibilidade. E que em muitos momentos que não ouvi minha intuição, tive que
ouvir de mim mesma um doloroso “eu avisei”.
Percebi que ser sensível
não é ser louca. Ë ser plena. Que pra mim louco é quem faz tudo sempre igual, e
que só vê a casca das coisas. Deve ser tão chato viver sem recheio! Eu sou
recheada, mas também tenho um vazio que de certa forma também me preenche, e
que mesmo muito bem acompanhada, sempre serei um pouco só. E eu preciso dessa
solidão para ser quem sou e para criar. E isso não precisa ser um peso. O meu
vazio não é um vácuo e quero usá-lo para me tornar cada vez mais leve.
E mais leve, pretendo
flutuar pela vida, parando para admirar cada instante e viver o que merece ser
vivido.
Toda alegria é
efêmera.
Toda
angústia cessa.
Todo
começo é um fim,
e todo fim é um
recomeço.