segunda-feira, 30 de abril de 2012

[Aos 27] - Obra em construção


Aos 27 entendi que ando perdendo tempo com pequenezas, e que preciso mudar o foco dos problemas para ter a real dimensão deles. Que pequenezas são mesquinhas, mas que sutilezas são mágicas e, perder a sutileza, é perder o encanto.
Percebi que tudo tem seu brilho, e também seu lado fosco, pois não existe nada perfeito. Mas que são as imperfeições que dão nuances à vida, que são os defeitos que nos fazem ver as qualidades e o feio que nos faz perceber o belo, mas que a beleza nem sempre está à primeira vista.

Aprendi o óbvio: que é errando que se aprende a acertar, como criança que precisa colocar o dedo na tomada para entender que dá choque. Descobri que estou me reinventando, e que estou bem longe de estar pronta. Talvez eu nunca esteja. Talvez nem seja esse o objetivo. Os seres humanos estão no mundo como massas de um pão de cozimento lento: primeiro são feitos de vários ingredientes, depois tem que crescer, e são sovados pelas mãos da vida, só então vão para o forno, mas quando chegam no ponto, se vão, devorados pela fome do mundo. Mas percebo que começo a caminhar com passos da mulher que sempre quis me tornar.

Entendi que a arte me pertence, e que pertenço à arte, de tal maneira que sem ela me sentiria amputada. Também vi que a arte não é louvar o erudito, ou criar pedestais que isolam a criação de quem a contempla. Fazer arte é pensar e recriar o mundo, é preencher a alma dos outros, mudar visões, propor idéias e elevar o espírito de quem está com os pés no chão.

Aprendi que para mim tudo tem que ter um significado, mesmo o que parece mais banal e mesmo que eu precise inventar um.  Que não acredito em sucesso sem trabalho, em fazer pela metade. Sou intensa e preciso estar inteira no que faço.

Descobri que cantar não é só soltar a voz, acertar uma nota, animar uma platéia. Ë expressar e ter o que dizer, mesmo que o que se canta não seja seu. É se apropriar da música e se fazer entender através dela. Descobri que atuar para mim significa construir, tijolo a tijolo um personagem, uma idéia e uma catarse.
Tive a certeza de que o palco me liberta, mas também me aprisiona, pois preciso dele. Que no teatro sou Muitas e na música sou Eu. E que não, não quero ter que escolher.

Aprendi aos 27 e depois de algumas decepções - daquelas que a gente exalta, mas que todo mundo tem – que poucos são leais. Que a efemeridade é o composto principal na maioria das relações humanas. E que é assim que deve ser,  pois se houvesse profundidade em excesso, muitos se afogariam.

Aprendi que acreditar em todos não é fé, é ingenuidade e que depois de certa idade e vivência isso se torna inadmissível. Mas também vi que alguns enganam mesmo, por covardia, ou por fraqueza de espírito, e que nesses casos não existe defesa além da prevenção. Mas não, não acho que se deva viver em descrédito, temos mesmo que viver, e aprender.  (Uma vez minha gata – in memorian – entrou no meu quarto toda suja de lama. Na hora nem pensei, peguei a bichana e levei direto pro chuveiro. Com cuidado, que fique claro, mas o  susto foi tanto que ela nunca mais entrou no banheiro! Mas não deixou de explorar os outros cômodos da casa). Deve ser por aí mesmo.

Aprendi que, não importa o que tenha acontecido, temos que acreditar no amor. Mas naquele amor real, aquele que preenche sem iludir, feito de paredes sólidas e valores inextricáveis. Que todo amor é um caminho e que mesmo as princesas de contos de fadas cortaram um dobrado para ter seu final feliz. Mas também aprendi que, antes de amar o outro, é preciso amar a si mesmo, para não virar gato ou sapato de ninguém.

Outra obviedade: Não devemos esperar das pessoas o que elas não são capazes de dar, cada um tem uma limitação peculiar. O autoconhecimento é a melhor forma de entender e cobrar menos de si mesmo e do outro.

27 e 4 meses. Percebi que o corpo muda, e a cabeça também. E que isso é muito bom. Que mudamos a visão, a audição, o tato, o olfato e o paladar. Passamos a gostar de outros sabores, a descobrir outras cores, outros cheiros, outras texturas, outros sons.  Que dá vontade de usar outras roupas e mudar o corte de cabelo. Que dá vontade de arriscar mais por aqui, e de se conter mais por ali. Que tenho a obrigação de ser útil, mas que tenho o direito de ser fútil às vezes. E que as decisões começam a ser mais acertadas. Pelo menos algumas.

Entendi que minha família é começo meio e fim. Antes durante e depois. E que é muito bom ter uma base sólida e reconfortante.

Aprendi que meus amigos de verdade são ainda mais valiosos do que eu já valorizava, Mas que mesmo amando muito eu piso na bola com eles e eles comigo. E que tá tudo bem, contanto que tentemos ser sempre melhores.

Aprendi o valor de perdoar e ser perdoada, e que às vezes é necessário passar o passado a limpo para viver o presente e caminhar para o futuro.  São as lágrimas que lavam a alma e a deixam brilhando para um novo viver. Que devo confiar no meu sexto sentido, e na minha sensibilidade. E que em muitos momentos que não ouvi minha intuição, tive que ouvir de mim mesma um doloroso “eu avisei”.

Percebi que ser sensível não é ser louca. Ë ser plena. Que pra mim louco é quem faz tudo sempre igual, e que só vê a casca das coisas. Deve ser tão chato viver sem recheio! Eu sou recheada, mas também tenho um vazio que de certa forma também me preenche, e que mesmo muito bem acompanhada, sempre serei um pouco só. E eu preciso dessa solidão para ser quem sou e para criar. E isso não precisa ser um peso. O meu vazio não é um vácuo e quero usá-lo para me tornar cada vez mais leve.

E mais leve, pretendo flutuar pela vida, parando para admirar cada instante e viver o que merece ser vivido.

Toda alegria é efêmera.
Toda angústia cessa.          
Todo começo é um fim,
e todo fim é um recomeço.