segunda-feira, 15 de março de 2010

Hoje de manhã - o não acaso do acaso

Segunda, 15 de Março de 2010

Afogada nas minhas lágrimas, que atravancavam minha garganta sem querer sair, mas que também não me deixavam dormir mesmo depois de chegar cansada do show, 6 e 30 da manhã resolvi andar na Praia de Botafogo... na verdade eu queria era sair da minha casa, sair de mim um pouco e respirar. Andei bastante, mas muito pesada com uma angústia que me rasgava o peito, dilacerava a alma... Tentando chorar ou cantar , com vontade de gritar bem alto tudo aquilo que me afligia... Andei na areia... quanto lixo... impressionante o número de tampinhas de garrafa ... coloridas... urubus... é.. a baía de Guanabara já foi mais nobre... enfim...

Tava pensando em bater na porta de algum grande amigo que se dispusesse a madrugar para simplesmente me abraçar e me deixar chorar.

Lá estava eu fazendo minha cena... tentando respirar um pouco da minha vida.

Fui pela areia. Voltei pela pista... e passei por dois caras montando uma tenda de personal de corrida. Um deles já me olhava de longe e quando passei carregando todo o peso do mundo nas costas, ele me disse: Bom dia!

Eu respondi meio sem graça, meio triste.. um bom dia bem xoxo...

E fui prum banco de frente pro mar. O engraçado é que na hora uma voz na minha cabeça ficava dizendo, “ele podia vir aqui falar comigo”. Na verdade eu me sentei no banco sentindo isso, porque na verdade eu tava indo pra casa... mas senti que precisava esperar. Como quando se sente que vai chover, eu tinha certeza que alguma coisa ia acontecer. E não porque eu tivesse algum interesse, pra ser sincera na hora nem me lembrei de como ele era... mas sabe um sentimento forte de que é alguém que eu precisava conhecer naquele momento? Engraçado né? Enfim...

Fiquei lá, olhando o mar e as velhinhas fazendo alongamento com um professor muito atencioso que já tava La desde cedo (eu vou ser uma velhinha assim).

Passaram-se 15 minutos... e ele veio.

Eu não fiquei surpresa... mais engraçado ainda.

E ele disse:

- Oi, desculpa, eu vi você passando muito triste com uma expressão tão carregada. E me deu um bom dia tão tristinha. E vou te dizer, semana passada eu tava assim que nem você... com essa mesma cara aí voltando no ônibus, e um cara que sentou do meu lado começou a conversar comigo, perguntar o que tinha me acontecido. E eu achei isso muito legal. E eu te vi... e se vc não tivesse me respondido o bom dia, eu não teria vindo. Mas até falei com meu parceiro de trabalho: “nada acontece por acaso, fizeram isso comigo, agora é a minha vez de ajudar.” Você deve estar meio assustada, mas olha... as vezes conversar com um estranho faz bem.

Mais ou menos isso... e eu? Desabei num choro sentido, como se ele me conhecesse há anos... e falei,. falei, falei...falei muito... soltei o que tava preso dentro de mim, o que eu tinha vergonha de falar com quem me conhece... e como nada é por acaso descobri inclusive que ele tinha morado 3 anos em Viçosa (aí eu fiquei de cara de vez)... e eu falava e chorava...

Conversamos quase 1 hora. Eu desabafei... sobre tudo... ele me aconselhou, me disse as palavras certas sem passar a mão na minha cabeça. E disse coisas sobre as quais eu realmente vou pensar, me deu chaves para portas que eu não conseguia destrancar.

Impressionante. Um psicólogo da vida... Uma pessoa do bem.

E no final eu estava rindo! A gente conversando coisas mais animadas. Eu conseguindo ver o lado positivo da zona toda...Eu estava leve... eu estou leve.

Trocamos contatos porque encontros assim não devem ser desperdiçados. E o abraço que eu ainda precisava. Uma amizade que já nasce pronta e verdadeira. Conectada com o o que tem de melhor, pelo simples desejo que ele teve de me ajudar... foi como um colete salva-vidas num lugar muito, muito fundo.

Cheguei em casa com o sono que eu não ando tendo, mas senti a necessidade urgente de registrar isso que acabei de viver.

Mudou meu humor, minha hora, meu dia, e talvez minha vida.

E ganhei um amigo.

Nada, nada acontece por acaso.

-- Foto que tirei com meu celular, outro dia , la do Botafogo Praia Shopping, E viva meus arredores!

3 comentários:

  1. Eu não sei se nada acontece por acaso. Eu acho que talvez aconteça, embora algumas vezes as coisas se encaixem de forma tão impressionante e perfeita que é difícil não acreditar que o cosmos tenha desenhado a situação toda.

    Mas eu tenho tendência a acreditar que essas situações estão aí todo o tempo, e que tudo depende do que fazemos com elas; tudo depende de darmos chances pra que elas aconteçam. Isso me faz pensar no impacto poderoso de um 'Bom dia', de um 'sim' (ou de um 'não'), de perguntar, de se jogar, de escolher ou até mesmo de um simples follow back.

    E vou te confidenciar uma coisa. Sabe que eu adoro criar histórias com gente que vejo na rua? Volta e meia me pego pensando em diálogos, ações e nas infinitas possibilidades que existem e no quanto pequenas decisões podem mudar o curso de tudo. No quanto um "Oi" pode transformar o universo ao meu redor.

    Mas é frequente eu não me sentar no banco. Você se sentou, o que possibilitou a experiência; e só isso já valeu a pena. Afinal, às vezes tudo o que a gente precisa é escutar a palavra certa. Ou receber um abraço. Você ganhou os dois. Que mais se pode pedir para uma manhã de segunda-feira?

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  2. é...pode ser...
    no fundo eu gosto de acreditar que certas coisas foram obras calculadas do acaso.
    mas concordo que as situações acontecem quando permitimos que elas aconteçam...
    dificil dizer..
    "há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa filosofia".

    O que eu sei é que, acaso ou não... foi o caso de ser o que eu precisava! Funcionou!

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  3. Acaso ou não acaso, o caso(hehe) é que sinto um grande alívio ao pensar que em situações como essas, podemos ser úteis e figurar nos dois pólos. Ajudante ou ajudado, conselheiro ou aconselhado, pessoa que chora ou pessoa do lenço. Tudo isso de forma natural, e, ao mesmo tempo obrigatória.
    Impossível ver alguém desolado sem sentir que podemos contribuir de alguma forma. Experiência extremamente humana, pois, na medida em que uma peça da humanidade tem problemas, o socorro deve vir dos seus pares.
    Melhor ainda pares desconhecidos. Como você disse, mais fácil perder a vergonha de se abrir.
    Passei por situações dessas, fui até aconselhado por uma estátua de jardim (P.H Rolfs para ser preciso) na falta de calor humano que o fizesse por mim.
    Enfim, seu texto mantém viva a esperança de ajuda mútua entre meros componentes da espécie humana, nas horas mais necessárias. Muito bom!

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