domingo, 28 de fevereiro de 2010

O que não tem receita 2 - Intertextualizando

Escrevi o pequeno "O que não tem receita", ontem, por alguns motivos que não convém citar aqui (ou não agora). O que vem ao caso é que hoje fui à banca e resolvi me atualizar no mundo impresso. Comprei o Globo (que já é de praxe no domingo) e mais Época, JB e Veja. Ótimo. Nada substitui o papel.
Ainda estou no Globo. Domigo é dia de ler jornal inteiro, incluindo as partes que eu considero chatas (Economia e tal...) mas já cheguei à Revista, que adoro e, é sim um dos principais motivos de eu sempre comprar no domingo (além da coluna do João Ubaldo). E estou fazendo toda essa introdução porque, eis a minha surpresa, na página 44 - coluna Consultório, do Alberto Goldin - leio o seguinte:

"A novidade comoveu o planeta. Jovens gênios da neuroinformática inventaram um aparelho semelhante a uma câmera fotográfica, capaz de revelar desejos íntimos e fantasias ocultas. Ao focalizar o rosto da pessoa, visualiza tudo o que pensa, ama ou detesta. Uma espécie de tomógrafo mental. Vendeu horrores, porém, em pouco tempo, o verdadeiro horror ficou evidente. Milhares de separações, agressões, vizinhos pedindo explicações... Amizades da vida inteira acabaram de repente.
Finalmente, as autoridades proibiram-no, limitando seu uso a aeroportos e delegacias. Fora disso, encrenca pura. Era óbvio que não tinham inventado a invasão de privacidade, no passado houve grampos telefônicos, correspondências violadas, câmeras ocultas, emails expostos etc. Só que o novo aparelho era mais eficiente, despia a alma e a exibia em praça pública. (...)" (Revista do Globo, 292, 28/02/10, pg.44)

Achei curiosa a coincidencia do tema e por isso resolvi trazer pra cá e continuá-lo. É... uma máquina fotográfica da mente talvez seja um brinquedo perigoso em mãos humanas. aliás o que sempre acontece... o remédio se torna veneno pela simples sede de controle que nos toma, por não conseguirmos controlar nossos impulsos. Quando escrevi ontem, eu a desejava intensamente . Algo que pudesse me traduzir naquele momento. Mas, uma vez inventado não haveria como voltar atrás. Aproveito para colocar também um trecho do comentário do querido @sergiomarcio2 - do www.aldeacultural.com - no post:

"Não haveria nudez mais reveladora que a de um álbum de fotos feito com uma máquina assim.
Exposições antológicas seriam realizadas e muitos aproveitariam para vender seus álbuns no E-bay e no Mercado Livre."

É... melhor não. Aí me peguei pensando... "Ok, sem máquina fotográfica... talvez uma impressora pessoal que imprimisse os pensamentos naqueles papéis de extrato de banco que se apagam depois de um tempo". Então imaginei o valor de um papelzinho desses plastificado, as inúmeras chantagens possíveis, publicações de pensamentos de ex amores que um dia foram dados em confiança e prova de afeto... Fãs revirando lixeiras de hotéis à procura de um pensamento fresquinho e arrependido do seu ídolo... Enfim... É... melhor máquina nenhuma. Máquina nenhuma e um pouco mais de maturidade para conseguir traduzir o que as vezes é tão estranho, mas precisa ser dito. para organizar melhor os pensamentos e não se deixar bagunçar por coisas simples. E dormir a noite toda. Ou não... talvez seja mesmo essa a graça disso tudo.

3 comentários:

  1. Incrível essa coincidência! Acho que no final das contas, é mesmo melhor - embora mais difícil e por vezes sofrido - fazer essa tradução. E com certeza é bem mais legal quando a gente consegue fazer o registro e outras pessoas (almas, também, afinal) fazem a captura, sem necessidade de máquina alguma.

    PS: Obrigado pela menção! :)

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  2. Fato! Tão divertido quanto ler, é ser lido, descoberto...
    E... estava pensando... mais do quw tudo seria cruel não poder ter os pensamentos secretos, proibidos. O fato de permanecerem secretos torna possivel a vida em sociedade!!

    E a mençao foi merecida!

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  3. Há um livro, antiiiigo chamado "A luneta Mágica" (Joaquim Manuel de Macedo - 1869) que se baseia numa idéia semelhante. Li no colégio, fazia parte das leituras obrigatórias. Há algum tempo encontrei a venda em Botafogo por um senhor que costuma ficar ali vendendo coisas usadas. Comprei e reli. Está na casa de Marcinho. Leia.
    P.S.: tenha paciência com a linguagem é preciso ver o contexto da época, vale a pena e como vejo continua atual.

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